quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O atleta de futebol diabético


1 – Introdução

Os profissionais envolvidos no futebol, principalmente na área da Preparação Física recebem poucas informações sobre as limitações físicas dos diabéticos durante seu processo de formação. Sendo o diabetes hoje uma patologia que atinge uma porção considerável da população é de suma importância um conhecimento mais profundo desta doença, até mesmo porque não é raro encontrarmos casos de atletas portadores do diabetes. Sem o conhecimento da doença, de suas características e variação, se torna muito difícil obter uma otimização nos treinamentos e acima de tudo, manter a integridade física do atleta. Muitos são os aspectos que os profissionais ligados ao esporte devem levar em consideração e conhecer a respeito do diabetes:

- Tipo de Diabetes;
- Alimentação;
- Tipos de treinamentos;
- Monitoração da glicose sanguínea;
- Composição corporal do atleta;
- Saber reconhecer os sintomas de hipoglicemia e hiperglicemia;

2 – Definições

O diabetes é uma disfunção metabólica, originada pelo comprometimento na produção e/ou utilização do hormônio insulina. O grau de comprometimento de sua produção, de sua ação, do número ou da resposta dos receptores à insulina, assim como a idade, tempo de aparecimento e tipo de terapêutica são indicadores do aparecimento da doença. (CANCELLIÉRI, 1999, p.23). Para Martins, (2000, p.43), existem dois tipos de diabetes: o tipo 1 ou diabetes mellitus insulino-dependente, denominado antigamente de infanto-juvenil, por acometer indivíduos mais jovens. Está relacionada a uma absoluta deficiência de insulina e de outros hormônios pancreáticos. O tipo 2, também chamado de diabetes mellitus não-insulino-dependente , tende aparecer no início da maturidade.
Com a evolução da medicina esportiva, hoje esta doença pode ser controlada de maneira eficiente na maioria dos casos, possibilitando que o atleta diabético tenha uma vida esportiva relativamente normal, podendo atingir até o alto rendimento, tornando-se atleta profissional. Hoje nos clubes de futebol profissional exames clínicos são realizados com freqüência, permitindo assim a detecção de doenças como o diabetes. Aparelhos de glicemia permitem a análise rápida da glicose sanguínea do atleta; nesta análise, por exemplo, pode-se verificar um estado de hipoglicemia ou hiperglicemia, fazendo com que as devidas medidas sejam tomadas o quanto antes.

3 – Benefícios

Segundo Colberg (1963) o exercício físico regular fornece diversos benefícios ao diabético:

- Melhora na sensibilidade à insulina, que resulta em uma diminuição na quantidade necessária para manter o nível sanguíneo normal de açúcar.
- Diminuição nos fatores de risco cardiovascular, com aumento no HDL colesterol (lipoproteína de alta densidade) e uma redução no LDL colesterol (de baixa densidade) e nos triglicerídeos circulantes.
- Ênfase na fibrinólise (aderência reduzida das plaquetas sanguíneas e menos possibilidade de formação de coágulos, eu levam ao infarto ou acidente vascular cerebral).
- Melhora no estado psicológico e na administração do estresse associado ao diabetes ou a outros fatores.
- Aumento na massa muscular e redução na gordura, que contribuem com uma melhora na sensibilidade à insulina.
- Melhora em potencial no controle glicêmico geral, se o açúcar sanguíneo for monitorado e se forem feitos ajustes na dieta e nas medicações.

4 – Riscos

Ainda que os exercícios regulares possibilitem benefícios a seu praticante, tanto na prevenção como no tratamento do diabetes, estes só são alcançados se realizados de maneira adequada, caso contrário o diabético está sujeito a riscos indesejáveis e desastrosos, onde Cancelliéri (1999, p.71) dentre os quais cita:

- Hemorragia retiniana em retinopatia proliferativa e exarcebação de quadros de nefropatia, incluindo microalbuminúria;
- Hipertensão;
- Neuropatias autonômicas e/ou periféricas e doenças cardíacas e articulares degenerativas, além da exarcebação desses quadros patológicos existe a possibilidade de angina pectoris, arritmias cardíacas e infarto do miocárdio;
A possibilidade de ocorrência destas complicações é grandemente associada à prática errônea dos exercícios, prescrição inadequada ou não observância do atual estado de saúde.
Saber reconhecer estes sintomas é importante durante a prática de exercícios físicos, pois há um risco aumentado de ocorrer principalmente hipoglicemias, condição esta potencialmente perigosa para o diabético.
Dentre os sintomas mais comuns encontramos:

- tontura;
- tremores;
- visão turva;
- fome;
- irritabilidade ou mudança de comportamento;
- suor excessivo e palidez
Hiperglicemias também são indesejadas, variando desde os sintomas clássicos até coma, que são mais comuns nos diabéticos tipo 1, mas podem ser evitadas se houver monitoramento diários das taxas glicemicas. Os sinais e sintomas de hiperglicemias são:

- sede excessiva;
- urinar com freqüência e abundância;
- teste de glicemia positivo;
- fome;

5 - Adaptações

Algumas adaptações do sistema cardio-respiratório e circulatório, são descritos na tabela abaixo, adaptações estas que sofrem influência direta do esforço a que o organismo é submetido durante a atividade física ou treinamento, no caso de atletas de futebol:

Peso e volume do coração
Aumento
Volume sanguíneo
Aumento
Freqüência cardíaca de repouso
Diminuição
Fluxo sangüíneo e distribuição do sangue
Aumento
Pressão arterial em repouso
Diminuição
VO2 máximo
Aumento
Freqüência cardíaca máxima
Aumento
Freqüência respiratória em repouso
Aumento
Glicogênio muscular e hepático
Aumento
Massa muscular
Aumento

O aumento no peso e no volume do coração proporciona diminuição da freqüência cardíaca de repouso e da freqüência cardíaca máxima, pois o coração passa a contrair e bombear sangue mais eficientemente. O aumento do glicogênio hepático e muscular contribui para minimizar os efeitos das hipoglicemias. (DRUMMOND, F. A. Exercício Físico e Diabetes. Medicina Esportiva 2002).
Colberg (1963), Fala que no futebol dependendo da posição que se joga, essa atividade é uma combinação de movimentos de parar e recomeçar, movimento de potência como chutes e arremessos e corridas de longa distância. Os médios volantes podem fazer uma corrida mais prolongada, enquanto os zagueiros e goleiros correm distâncias mais curtas. O atleta precisará de mudanças na insulina e na ingestão de carboidratos durante as partidas de futebol, que variam de acordo com sua posição e a duração da atividade. No entanto, se nenhuma mudança for feita na insulina para os jogos e os treinos de futebol, a suplementação de carboidratos (30 a 45 gramas por hora) será necessária para todos os regimes insulínicos, dependendo do nível de insulina circulante, da intensidade e da duração do jogo.
A intensidade (frequentemente determinada pela posição do jogador), a duração do jogo e o nível de insulina circulante durante a partida são os fatores que afetam a resposta do açúcar sanguíneo ao futebol. O jogo prolongado causa uma redução maior nos depósitos de glicogênio muscular e no nível de açúcar sanguíneo e, portanto, requer uma ingestão maior de carboidrato combinada com reduções na insulina, antes e possivelmente após o jogo. A posição (que pode envolver corridas contínuas ou apenas ocasionais) é o fator que mais determina a intensidade do jogo. Um médio volante que faz corridas mais longas durante um jogo de uma hora precisará reduzir a insulina e aumentar a ingestão de alimentos muito mais do que um goleiro, que ocasionalmente chuta ou arremessa a bola sem correr muito.

Durante o treino, o nível de atividade entre posições pode ser mais semelhante se todos os jogadores do time fizerem corridas contínuas ou manobras de arremesso. O nível de insulina circulante durante o jogo também afeta a necessidade de suplementação de carboidrato. Se foi tomada a insulina de ação curta três a quatro horas antes da atividade, é mais provável que o nível de glicose cairá do que se apenas uma quantidade basal de insulina estiver presente no seu corpo durante o jogo de futebol. Na temporada de jogos o atleta provavelmente precisará reduzir a dose de insulina basal (insulina de ação intermediária ou longa ou a taxa basal na bomba) mais do que na época de treinos.

6 – Suplementação
Todo dia o mercado lança diversas marcas e variedades de produtos de suplementação que prometem uma melhora rápida e considerável no desempenho dos atletas; Mas é preciso ter um cuidado muito grande com estes produtos, pois nem sempre exercem o efeito espero, e em alguns casos pode causar danos irreparáveis ao atleta diabético.
No site http://www.diabetes.org.br/ podemos encontrar uma lista de suplementos benéficos e que podem ser prejudiciais.
Lista de suplementos potencialmente benéficos para atletas:

* Antioxidantes (vitamina C, E, beta-caroteno e selênio): redução do dano oxidante às membranas celulares, induzido pelo exercício e/ou pela hiperglicemia.
* Carboidrato: ingestão de quantidades adequadas de carboidratos antes, durante e após o exrcício impede a hipoglicemia resultante do exercício.
* Cromo, vanádio e zinco: melhora na sensibilidade à insulina (especialmente as pessoas com diabetes tipo 2).
* Glicerol: previne a desidratação durante o exercício e quando a hiperglicemia esta presente.
* Bebidas esportivas: prevenção de hipglicemia (caso a bebida ontenha frutose ou glicose), e do desequilíbrio dos eletrólitos durante a atividade física prolongada, especialmente no calor. As bebidas esportivas também podem causar hiperglicemias se a ingestão de carboidratos for maior que o necessário. Lembrar que a ingestão destes produtos não elimina a necessidade de ingestão de água.
* Água, reposição de líquidos: prevenção de desidratação, especialmente devido à hiperglicemia ou exercício no calor.

Lista de suplementos que podem ser potencialmente prejudiciais:

* Suplemento de aminoácidos: desequilíbrio do aminoácido no corpo, aumento do esforço dos rins devido ao excesso de excreção de nitrogênio.
* Cafeína: perda excessiva de água e desidratação, especialmente no calor.
* Carga de carboidrato: hiperglicemia antes, durante e/ou após a atividade física. Também reduz a sensibilidade à insulina. Pode levar à hipoglicemia caso seja consumida antes do exercício e se tomar muita insulina em relação a caboidratos. A carga de carboidratos também pode ser benéfica para garantir uma reposição proveitosa do nível de glicogênio muscular e hepático, antes e depois do exercício. Uma quantidade adequada de insulina deve estar disponível para impedir a hiperglicemia e facilitar a captação da glicose pelo músculo.
* Creatina: aumenta o esforço dos rins, especialmente se uma doença renal estiver presente, devido ao excesso de eliminação da creatina pela urina. A creatina provoca o mais intenso esforço renal durante o período inicial de carga (cinco dias). Durante o período de manutenção, o esforço dos rins pode ser mínimo caso o seu funcionamento seja normal.
* Carga de gordura: índices mais lentos de absorção do carboidrato durante o exercício, se consumido antes ou durante da atividade, resistência elevada à insulina, produção de corpos de cetona e obesidade em longo prazo.
* Suplemento de proteína: sobrecarga dos rins em razão do excesso de excreção do nitrogênio, especialmente na presença de uma nefropatia.

7 – Considerações finais
Tanto no esporte de alto rendimento como o futebol, quanto na “pelada de final de semana”, a importância de se conhecer o verdadeiro estado clínico dos participantes é fundamental para se prevenir diversos situações de desconforto. Com a avanço da tecnologia ligada a área esportiva, mais especificamente na medicina, a facilidade em constatar distúrbios de qualquer natureza é grande, mas de nada nos adianta a constatação, o mais importante é saber como lidar com essas situações, saber quais os procedimentos a serem tomados e em quais circunstâncias.
O apoio ao atleta de futebol diabético é de responsabilidade de todos os membros das comissões técnica e médica da equipe; Deixar o atleta bem a vontade, mostrando que a doença é uma barreira que pode ser superada apenas com controles até certo ponto simples fará com que os resultados aparecem com muito mais facilidade e segurança.

8 – Referências Bibliográficas

CANCELLIÉRI, C. Diabetes e Atividade Física. São Paulo: Fontoura, 87P, 1999.
CORLBERG, S. R., 1963 – Atividade física e diabetes / Sheri Colberg [ tradução Maria de Lourdes Giannini; revisão técnica Roberto Fernandes da Costa]. – Barueri, SP : Manole, 2003.
DM Martins - Exercício físico no controle do diabetes mellitus – Phorte, 2000.
DRUMMOND, F. A. - Exercício Físico e Diabetes. Medicina Esportiva 2002).
http://www.diabetes.org.br/ – Atividades física para atletas

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